As coincidências na engenharia criminosa entre o furto milionário ao Banco Central, em Fortaleza, e o “quase-furto” bilionário ao Banco do Brasil, em São Paulo, estão sendo levadas em consideração na investigação da Delegacia de Roubos a Banco do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), da Polícia Civil paulista. Em entrevista ao O POVO, o delegado Fábio Pinheiro Lopes afirmou ontem que a decretação da prisão preventiva de 16 presos poderá revelar o que de fato ligaria os dois crimes e se há assaltantes foragidos que participaram da ação no Ceará, em 2005. “Os presos permanecerão pelo menos dez dias conosco na Deic, para relacionarmos esses indícios”, afirmou Lopes.
Em princípio, a escavação de um grande túnel estruturado, a contratação de especialistas, o planejamento a longo tempo, o aluguel de imóveis de fachada, a aquisição de muitos veículos para transportar o dinheiro, o “financiamento” do roubo, a grande quantia visada em caixa-forte e, principalmente, a liderança do Primeiro Comando da Capital (PCC) são correlações já feitas entre os dois crimes.
Grupo que agiu no Ceará
Boa parte do grupo que escavou o túnel do Banco Central em Fortaleza, de onde foram levados R$ 164,7 milhões, já está solta. Decisões do Tribunal Federal da 5ª Região (TRF-5), em Recife, extinguiram a pena de organização criminosa atribuída ao bando que agiu no Ceará.
O cearense Antônio Jussivan Alves dos Santos, o Alemão, um dos líderes do roubo ao Banco Central no Ceará foi o primeiro que se beneficiou das sentenças do TRF-5 contra as condenações determinadas pelo juiz Danilo Fontenele, da 11ª Vara Federal de Fortaleza. Em fevereiro deste ano, a advogada Erbênia Rodrigues conseguiu livrar Alemão de 80 anos, 10 meses e 20 dias de prisão em regime fechado. O TRF-5 entendeu que era nulo o crime de “lavagem de dinheiro praticado por organização criminosa”.
O assaltante cearense, que pertence ao PCC, segundo o delegado federal aposentado Antônio Celso dos Santos — responsável pela investigação do furto ao Banco Central —, só não foi solto porque responde a outros processos. Mas vários criminosos do caso BC, de executores do túnel a laranjas, já conseguiram a liberdade.
Fuga em Fortaleza
Mesmo com a pena extinta e sendo considerado preso de bom comportamento no presídio de Pacatuba, Alemão tentou fugir em agosto deste ano. Uma “surpresa” até para a advogada Erbênia Rodrigues. À época, ela afirmou que havia requerido a progressão do regime fechado do cliente e o pedido estava sendo analisado pela 1ª Vara de Execuções Penais de Fortaleza. Alemão terminou baleado na ação.
Após a tentativa de fuga, um delegado federal ouvido pelo O POVO afirmou que o episódio poderia estar ligado a uma grande ação que o PCC estaria planejando contra autoridades ou outro grande assalto. Um alerta informal teria sido disparado para as superintendências de Fortaleza e Brasília, mas encarado como fato improvável.