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Como participação social e planejamento urbano podem tornar as cidades mais sustentáveis



A jornalista autodidata que virou um dos ícones do urbanismo sustentável, Jane Jacobs (1916-2006), eternizou na obra A Morte e a Vida das Grandes Cidades, escrita em 1961, o termo "ballet da calçada". Muita coisa mudou na Janes Jacobs Way, pequena via batizada em homenagem a própria pensadora, em Nova York, mas muito do que ocorria em frente ao apartamento de Jacobs é que a inspirou em pensar em cidades mais resilientes, no sentido de oferecer qualidade de vida para seus moradores.

No quarteirão do apartamento, ela via as pessoas saírem para colocar o lixo na calçada. Crianças irem à escola. Lavanderias e barbearias funcionando. Mulheres batendo papo. O bar e os adolescentes em seus primeiros encontros logo depois da escola. "Vizinhos e estranhos se sentem seguros porque eles nunca estão sozinhos", costumava dizer.


Em suas aulas na Universidade de Michigan, Douglas Kelbaugh, autor da obra The Urban Fix, Resilient Cities in the War Against Climate Change, Heat Islands and Overpopulation, ainda sem tradução em português, é enfático. As cidades consideradas caminháveis - a comparação entre a Asa Sul (ou Norte) de Brasília e Copacabana (Rio) faz sentido - estão mais preparadas para os desafios urbanísticos e climáticos do século 21.

Um conceito importante, segundo esse premiado professor americano, é o de adensar as cidades. Mais pessoas por metro quadrado, em vez de simplesmente verticalizar (muitos metros quadrados para poucas pessoas), como ocorre em muitos bairros paulistanos. Calçadas inteiras sem ninguém. Os edifícios normalmente de luxo dão as costas para a rua. Com isso, a sensação de insegurança apenas aumenta.


"O engajamento das pessoas" é uma ferramenta essencial para a construção das cidades atuais, que possam ser resilientes e sustentáveis, afirma Luis Octávio de Faria e Silva, ou simplesmente Li, como é conhecido o professor da Escola da Cidade. "Exemplos como a da Praça das Nascentes se encaixam exatamente no que estamos falando, assim como a ideia de ecobairros das Vilas Beijas", afirma.


No primeiro caso, uma associação que reúne amigos e vizinhos da Praça Homero Silva, na Pompeia, zona oeste paulistana, conseguiu resultados importantes na preservação das oito nascentes do Córrego Água Preta. Quando a sociedade local resolveu abraçar o local, em 2013, as nascentes estavam escondidas. Só havia lama e mosquito. A transformação ocorreu sem muitos recursos e com o suor e as enxadas dos próprios moradores. A última vitória da associação Ocupe e Abrace, já no meio da pandemia, foi conseguir barrar a construção de um prédio em uma área anexa das nascentes.


Também na zona oeste de São Paulo, o coletivo de moradores das Vilas Beatriz, Ida e Jataí trabalha de forma assídua para impor os conceitos de sustentabilidade no cotidiano da região. São 13 grupos de trabalho organizados, que vão desde os cuidados com a água até a questão do lixo zero e da reciclagem.

"O debate sobre a sustentabilidade nas cidades ganhou corpo nos últimos anos no Brasil, mas é preciso entrar mais de sola nesse tema. Hoje, devido à crise climática, já se fala muito mais em arquitetura regenerativa, ou seja, que recupera regiões e corpos hídricos, que também são fundamentais", afirma Li.

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