Bons exemplos disso estão saindo do papel e virando realidade por meio de uma parceria entre várias forças. A CSP, empresas de São Gonçalo do Amarante, a Universidade Federal do Ceará (UFC), a Universidade Federal de Viçosa e a Biosfera, empresa especialista em soluções sustentáveis, estão avançando nessa direção juntas.
Essas instituições desenvolveram soluções para o uso de resíduos gerados na CSP, por exemplo, um novo tipo de concreto. Ele demanda menos areia e brita, que são recursos naturais obtidos a partir da trituração de rochas. Carlos Roberto Guimarães, especialista de Aciaria da CSP, detalhou. “A nossa ideia foi produzir um concreto sustentável, substituindo 80% desses elementos naturais por um resíduo resultante da produção de aço, o agregado siderúrgico, também conhecido como escória do BSSF”.
Resíduos e desperdícios se transformaram em renda e novos negócios. Para isso, muita tecnologia e parcerias com universidades e outras entidades são realizadas. Quando não se reutiliza materiais que seriam descartados é porque tem dinheiro fora do lugar. É o que defende a analista de Meio Ambiente da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), Ana Júlia Dantas. “Sistemas que são menos eficientes vão gerar danos ao próprio bolso da empresa. Quanto mais resíduos, pior. Um resíduo bem gerenciado significa melhora nos resultados ambientais e financeiros também. Quando há desperdício, significa que preciso de mais soluções pra destinar nossos materiais”, explica a analista.
Melhor para o meio ambiente e para os negócios
No processo de produção do aço, são gerados vários resíduos: escória (de Aciaria e de Alto-forno), lama, pós, resíduos refratários e resíduos metálicos (sucatas). Hoje, a siderúrgica cearense consegue o reaproveitamento interno e destinação externa em quase 100% dos resíduos. A CSP comercializa coprodutos para cimenteiras, para indústrias de cerâmicas, químicas, como tintas, pavimentação de pátios e vias. O reaproveitamento dos resíduos reduz custos e aumenta a sustentabilidade do negócio.
Dar novas alternativas sustentáveis e nobres para o uso do agregado siderúrgico é a inspiração da CSP e parceiros. “Hoje, 100% do agregado siderúrgico não metálico gerado na produção de aço e processado na estação de granulação (BSSF) é vendido para as empresas cimenteiras. O nosso objetivo é desenvolver novas aplicações sustentáveis, diversificando ainda mais as destinações”, ressalta Carlos Guimarães.
Testado e aprovado internamente
Todos os dias, na hora do almoço na CSP, dezenas de pessoas caminham em 400 m² de blocos intertravados coloridos, quando saem do prédio da Aciaria em direção ao restaurante. Todos os blocos foram feitos com agregado siderúrgico da produção de aço. Cada um deles representa o trabalho conjunto das universidades, equipe da CSP e das empresas regionais parceiras Sudamim e RP Pré-Moldados.
“Um bloco convencional produzido, que se usa na cidade, é composto de areia, cimento e brita. O bloco que produzimos substitui a areia e a brita por escória siderúrgica, que possui características similares. O resultado foi muito bom! Atendeu as especificações da norma (NBR 10.004). Dentro disso, nós produzimos mais de 1.000 blocos e construímos o caminho seguro para acesso ao refeitório, como um projeto piloto da nossa área. Agora, podemos buscar novos mercados e incluir esse item como mais uma aplicação do nosso coproduto”, comemora o especialista da Aciaria.
Outra vantagem é que o uso da escória torna o custo dos blocos intertravados menor. “O preço, em geral, é mais barato quando comparado com a produção de brita e areia, pois estes envolvem vários processos para extração de rochas naturais”, defende Carlos Guimarães.
Como tudo isso foi desenvolvido
1 – Tecnologia. Os possíveis usos sustentáveis do agregado siderúrgico da CSP são fruto do investimento da usina na aquisição da unidade BSSF (Baosteel Slag Short Flow), uma tecnologia que granula a escória de aciaria. A analista de Meio Ambiente da CSP, Ana Júlia Dantas, destaca que “esta tecnologia inovadora reduz o tempo de tratamento da escória de Aciaria de 6 a 8 meses para apenas 30 minutos, quando comparado ao processo de beneficiamento convencional de escória, com consequente redução de impactos ambientais. Esta é uma tecnologia que apenas a CSP possui no Brasil e foi implantada desde o início da operação da usina”.
2 – Estudo. A CSP usou como base um artigo publicado por pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos, onde concluíram que é possível substituir parte dos agregados naturais por escória da Aciaria na produção de blocos de concreto. O estudo foi considerado inovador, ao dar uma destinação final sustentável ao resíduo e agregar qualidade ao produto fabricado.
3 – Parcerias. “A nossa proposta era desenvolver produtos utilizando empresas da comunidade de Pecém. A geração fica próximo ao consumo. O produto foi desenvolvido, testado e aplicado. Fizemos até em cores diferentes, dispensando pintura e atendendo às necessidades desejadas do cliente”, destaca Carlos Roberto Guimarães.
Da UFC e CSP, para as estradas
Na CSP, a cada tonelada de aço produzida são geradas na Aciaria 100 kg de escória. Os metálicos são reutilizados internamente e os não metálicos (agregados) são destinados à produção de cimento em outras indústrias. Mas, poderá também virar concreto e ganhar novas nobres funções.
“Um dos projetos em que vamos fazer o uso da escória do BSSF, junto com a UFC, é o desenvolvimento de massa asfáltica, para pavimentação de rodovias e estradas que têm circulação de caminhões pesados. Vamos trabalhar também na construção civil. A indústria da construção civil está em plena expansão na nossa região, que possui alta concentração de cloreto no ar atmosférico. Por este motivo, estamos trabalhando junto com a universidade no desenvolvimento de um concreto resistente à corrosão”, relata o especialista da CSP.
A escória do BSSF também já vem sendo usada para o jateamento de superfície para aplicação de pintura. Além disto, também há desenvolvimentos na produção de fertilizantes agrícolas a partir do uso de resíduos siderúrgicos da CSP. “Esse projeto está em andamento com a empresa Biosfera e a Universidade Federal de Viçosa. Nossa expectativa é que no final de 2023, já teremos este novo produto desenvolvido”, revela Carlos Guimarães.
Já tendo completado 50 anos de carreira na siderurgia, o profissional comemora o engajamento e avanços nos projetos. “A gente fica muito feliz e se sente grato. Na verdade, até hoje eu me realizo em cada desenvolvimento que participo. Sou um eterno aprendiz. Nós aprendemos a fazer esse bloquinho intertravado e esperamos que ele seja muito útil para as nossas aplicações, e que ele represente apenas o início dessa série de projetos”.
Fonte:portalterradaluz
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