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Os desafios do Brasil para tornar o turismo mais acessível a pessoas com deficiência


A falta de acessibilidade impede mais da metade (53,5%) dos turistas brasileiros com deficiência de viajar para algum destino no País. A informação consta em mapeamento inédito sobre o Perfil do Turista com Deficiência, lançado pelo Ministério do Turismo. De acordo com o estudo, a maioria desse público tem idade entre 41 e 50 anos (24,3%), é da região Sudeste (49,1%) e são mulheres (64,4%). Além disso, 49% deles disseram viajar sempre acompanhados.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os brasileiros com alguma deficiência somam 17,3 milhões de pessoas ou 8,4% da população em geral, sendo 3% com deficiência visual, 1% com deficiência auditiva (a minoria domina a Língua Brasileira de Sinais – Libras) e 1% com deficiência mental. O Ceará soma mais de 2 milhões de deficientes (27,69% da população), acima da média nordestina (26,63%) e nacional (23,92%).

Ticiana Torres de Melo tem 37 anos, é servidora pública e há 12 anos vive sobre duas rodas, depois de um acidente de carro que a deixou paraplégica. Para ela, a acessibilidade em Fortaleza, onde mora, ainda é muito ruim. Mas reconhece que, nos últimos dez anos, houve uma melhora significativa.


Como exemplo, ela cita a nova Beira-Mar, assim como alguns projetos voltados à acessibilidade nas praias da Capital para pessoas com deficiência (PCDs).

Para Ticiana, shoppings e alguns restaurantes da cidade também já são mais preparados para receber PCDs. “Acessibilidade não é só oferecer uma rampa na entrada do estabelecimento, é oferecer uma rampa que dê para se locomover sozinho, um banheiro adaptado, amplo, onde as pessoas possam fazer tudo sozinhas”, afirma.

Banho de mar

A Prefeitura de Fortaleza, em parceria com o Governo do Ceará, criou em 2016 o Praia Acessível. O projeto permite que pessoas com dificuldade de locomoção possam usufruir de um banho de mar tranquilo e seguro, realizado com o uso de uma cadeira anfíbia. A iniciativa oferece aos usuários espaço de lazer com esteira de acesso e cadeiras anfíbias, além de apoio personalizado e seguro de cuidadores.

O projeto, que já atendeu mais de 7 mil pessoas, funciona na Praia de Iracema, próximo ao Centro Cultural Belchior, de quarta-feira a sábado, das 9 às 13 horas, com uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) durante o banho.

O secretário de Turismo de Fortaleza, Alexandre Pereira, lembra que o projeto conquistou o primeiro lugar no Prêmio Nacional do Turismo 2019, na categoria Turismo Social, concedido pelo Ministério do Turismo. “É muito reconfortante ver a alegria das pessoas tendo contato com o mar, muitas delas pela primeira vez”, destaca.

Política pública

De acordo com a Secretária do Turismo do Ceará, Yrwana Albuquerque, o objetivo da pasta é tornar a inclusão no turismo uma política pública. “É um trabalho de sensibilização e conscientização importante para garantir que todos sejam bem-vindos ao nosso destino”, afirma.

Além do Praia Acessível, a Capital também oferece um programa gratuito que proporciona a experiência de pedalar a pessoas com deficiência, mobilidade reduzida ou autismo.

Promovido pela Prefeitura de Fortaleza, por meio da Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) e em parceria com a Uninassau, o Bike Sem Barreiras oferece a oportunidade de pedalar com bicicletas adaptadas. A tenda do projeto é localizada ao lado do Centro Cultural Belchior e em frente ao projeto Praia Acessível, quinzenalmente. Iniciado há um ano e meio, já foram realizadas 39 edições.

Apesar dos avanços nos últimos anos no que diz respeito à acessibilidade na Capital, Ticiana relata onde encontra maior dificuldade em Fortaleza e quando viaja para outras cidades brasileiras.

“O Centro da cidade é inacessível, é onde eu trabalho e nunca consigo sair para almoçar em algum restaurante, as calçadas são muito ruins de andar, muitos buracos. Na Praia do Futuro, a maioria das barracas não têm acesso para cadeirantes, preciso me limitar a ficar na parte de cima, sem poder chegar até a areia. Outra situação que me sensibiliza muito é ver as pessoas que precisam usar o transporte público em Fortaleza. Além das calçadas serem péssimas, os ônibus estão muito aquém das nossas necessidades”, lamenta.


O Ministério do Turismo (MTur) divulgou, neste mês, os resultados da pesquisa “Turismo Acessível: Mapeamento do Perfil do Turista com Deficiência”, realizada em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco).

A iniciativa busca traçar o perfil desses turistas e seus hábitos de viagem, além de analisar a influência da acessibilidade na escolha do destino e atrativo turístico.

O turista com deficiência visual é o que mais viaja sozinho, enquanto os grupos com deficiência física, intelectual e mobilidade reduzida possuem alta incidência de viagens acompanhadas. Além disso, o grupo de pessoas com deficiência intelectual, mental ou com transtorno do espectro autista são os que tem a maior porcentagem de sempre viajar acompanhados.

Os respondentes ainda destacaram a importância de se ter informações adequadas e precisas sobre a acessibilidade do lugar conforme o tipo de deficiência.

O mapeamento mostrou também a necessidade da acessibilidade atitudinal (atitudes ou comportamentos de uma pessoa ao se comunicar com uma pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida) no setor turístico, sendo esse fator considerado de maior relevância para todos os tipos de turistas na hora de fazer uma viagem.

Pois, quando instados a responder se deixariam de visitar um atrativo turístico por ausência de acessibilidade atitudinal, os turistas indicaram que sim, sem haver diferença estatística relevante entre os perfis de pessoas com deficiência.


Fonte: O Otimista

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