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Redução no consumo de papel e prédio para melhorar o uso de recursos naturais.



Exigências legais, de compradores intermediários e de clientes finais. O uso de processos e materiais sustentáveis vem ganhando esses incentivos com maior recorrência, mas nem só isso leva à adoção de medidas de preservação ambiental. As próprias empresas estão mais atentas ao impacto que produzem no meio ambiente e uma parte delas se preocupa efetivamente com os cuidados que podem ajudar a garantir um futuro ao planeta e, consequentemente, à humanidade e demais espécies vegetais e animais. É isso que apontam especialistas e empresários atuantes na Serra.


Uma pesquisa feita pela Confederação Nacional da Indústria e pelo Instituto FSB com 500 empresas do setor, divulgada no último trimestre de 2021, 94% dos executivos enxergam oportunidades nas ações de sustentabilidade. O estudo apurou ainda que quase duas em cada três (63%) empresas entrevistadas afirmaram que ampliariam os investimentos em sustentabilidade nos próximos dois anos.


Embora haja uma correlação comum entre ações nesse âmbito e aumento dos custos, há exemplos práticos que invertem essa lógica. É o caso da empresa Reval, de Caxias do Sul, que decidiu aplicar R$ 1,6 milhão em um sistema de energia solar composto por 1,2 mil placas. A indústria, que faz terceirização de corte a laser e produz serras e ferramentas de corte de madeira, passou a economizar cerca de R$ 30 mil por mês.


Para o investimento inicial, fez um financiamento, mas contou com taxas atrativas por causa do incentivo a iniciativas como essa. A projeção é de que a economia com a conta de luz leve ao pagamento do gasto com a instalação do sistema energia solar em cinco anos. Segundo especialistas, o sistema dura ao menos 25 anos se for instalado da forma correta. Portanto, são 20 anos em que a Reval deve usufruir da redução de cerca de 65% na conta, sem sequer ter que pagar o financiamento.


Hoje, as instituições financeiras têm essa linha especial que te dá esse apoio. Se fosse tirar do caixa da empresa, se tornaria inviável. Se torna viável porque tem muito incentivo. E é um caminho sem volta essa questão da sustentabilidade. Hoje, não é nem mais uma iniciativa, é um padrão de boa parte das empresas — sustenta o gerente industrial da empresa, Vinicius Valim.




A metalúrgica, que tem 60 funcionários, também trabalha fortemente a separação correta dos resíduos, conforme a legislação ambiental. Valim explica que especialmente o mercado internacional está atento a esse cuidado com o meio ambiente:

— Cada vez mais, a gente tem essa ideia e o cliente também cobra isso. Até porque acho que cada vez mais os insumos vão ficar escassos, e a gente tem que ir buscando formas de renovar esse material.


Mercado aquecido para a energia solar



Quem anda pela Serra, provavelmente, já percebeu um aumento em placas de captação de energia solar sobre as casas, empresas e até nas propriedades rurais. Esse é um indicativo de que o mercado está realmente aquecido, como dizem especialistas do setor. Apesar de que comumente essa alternativa seja usada para reduzir custos, ela também gera bons resultados em termos ambientais. O professor Tiago Cassol Severo, da UCS, explica que a produção dos equipamentos utilizados no sistema são os comuns de um processo fabril, sem grande impacto negativo no ambiente. Depois de instalado, o sistema não gera prejuízos ambientais, afirma o diretor regional da Associação Brasileira de Geração Distribuída:


— O uso da energia solar tem um impacto baixíssimo. E o meio ambiente agradece muito isso. É uma geração limpa, sustentável, com alta durabilidade, e um impacto muito pequeno — dependendo do modelo que for usar, o impacto tendendo a zero — detalha.


Segundo ele, esse mercado deve continuar a crescer devido ao aumento com custos de energia elétrica e também por conta da redução do preço para a instalação da fotovoltaica. Diante disso, garante o professor, mesmo com a cobrança de uma taxa para quem instalar o sistema a partir do ano que vem, ele continuará a ser economicamente viável:


— A gente observa muito forte um aumento da demanda de residências, comércios de qualquer tamanho e indústrias querendo aderir à energia solar. Inclusive, aderindo à energia solar tanto no mercado cativo, como aquelas pessoas que recebem o boleto da RGE, como no mercado livre, que são aquelas pessoas que compram a energia de forma individualizada de uma concessionária de energia e elas também aderem ao sistema solar para apoiar isso. Então, o mercado está muito aquecido e a tendência é que isso aconteça ainda por uns bons anos.


Na Sicredi Pioneira, que trabalha com uma linha de crédito especial nesta área, 32% dos projetos são de empresas, enquanto 68% são de residências. A procura pela linha de financiamento da cooperativa, que oferece 120 meses para pagar e outros cinco de carência, aumentou 25% na comparação entre o primeiro semestre de 2021 e o de 2022. Desde 2019, quando criou uma área específica para a energia solar, a Sicredi Pioneira já financiou mais de 6,4 mil projetos e liberou R$ 319 milhões para a linha sustentável.


— O primeiro impacto é o econômico. Busca-se para diminuir os custos mensais. O segundo impacto é ambiental. A pessoa começa a pensar que está gerando a própria energia. Olha que legal, com o sol que é uma fonte abundante. Daí, começa a ver que coopera com o vizinho, coopera com a matriz energética brasileira — aponta Julia Renata Cornelli, gerente Negócios de Energia Solar da Sicredi Pioneira.


Pequenas mudanças, grandes resultados


De fato, existe um mercado interessado em produtos que tenham um selo de sustentabilidade, mas uma barreira até mesmo para as empresas avançarem nesse sentido é o entendimento de que o cuidado ambiental custa caro. Especialistas pontuam que quando a análise é superficialmente feita no curto prazo, isso pode até parecer verdade. No entanto, um olhar mais avançado com vistas ao futuro da organização pode encontrar na sustentabilidade uma aliada para a redução de gastos.

— Às vezes, pequenas mudanças internas na organização proporcionam que elas tenham uma redução de custos, uma melhoria no uso da matéria-prima. Não é só tecnologia, é uma ideia nova que possa surgir e colaborar com o processo produtivo. Isso já traz uma melhoria para o produto e uma característica ambiental. Muitas vezes, a gente pensa que um produto ecológico ou sustentável vai ser mais caro. Nem sempre. Se uma empresa realmente tem dentro da sua organização um propósito, intenção e característica de melhoria dos aspectos ambientais internos, não necessariamente isso aumenta os custos produtivos — assinala o professor Eduardo Echevenguá Barcellos, mestre em Ciência e Engenharia dos Materiais.


Para ele, a sustentabilidade passou a ser uma pauta mais ativa nos últimos 10 anos.

— Quando a gente fala de sustentabilidade, a gente precisa entender que as empresas não podem mais pensar que sustentabilidade é atender a uma legislação ambiental específica. Ela tem que entender que é a aplicação de diversas ações pensando em um futuro, seja ações com relação à questão ambiental ou à questão social, tanto de seus colaboradores internos quanto outras partes externas interessadas. Então, sim, elas estão preocupadas com isso porque isso reflete na sua imagem — pontua o professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS).


Mais passos para a conscientização


A coordenadora do curso de Engenharia Ambiental da Universidade de Caxias do Sul (UCS), professora Renata Cornelli, diz que a procura pela adequação ambiental aqueceu inclusive o mercado de trabalho da área, até porque existe um efeito cascata em relação a esses cuidados:

— Está havendo uma cobrança entre fornecedores, entre clientes, fazendo com que essa adequação aconteça. Se eu estou sendo mais sustentável ou adequada à questão ambiental, vou querer que parceiros trabalhem comigo na mesma dinâmica, para não prejudicar a imagem da organização que eu presto serviço


Porém, ainda há muito em que avançar. É comum que denúncias de casos de empresas poluindo rios, uma situação bastante visível a olho nu. Então, o que ainda falta para que esses casos fiquem cada vez menos frequentes:


— Nós nos conscientizarmos de que estamos trabalhando com elementos que vão além dos muros da organização. Quando a gente fala de geração de resíduos, sejam sólidos, líquidos ou gasosos, isso vai impactar no ambiente no qual essa organização está inserida, nos bairros vizinhos. Mas também eu, percebendo que existe essa externalidade, começo a pensar em como vamos implantar soluções dentro da organização. Então, essa conscientização parte daí para que eu repense todos os itens de consumo, de processos produtivos propriamente ditos, utilizando matérias-primas ou insumos menos tóxicos, otimizando o uso de energia e matérias-primas, além de todas aquelas situações básicas que a gente fala, nem que seja trocar o uso do copo plástico por uma caneca, mas que precisa partir dessa conscientização da organização — comenta a doutora em Engenharia de Produção.


Benefícios gerados por ações sustentáveis:


  • Melhora da imagem da organização junto a clientes interessados nesse aspecto;

  • Gestão de custo e eficiência produtiva: empresas podem se beneficiar financeiramente de ações sustentáveis, com a compra de matérias-primas mais sustentáveis e barata, por exemplo.

  • Entrada no mercado financeiro cumprindo critérios de sustentabilidade pode gerar mais investidores.

  • Deixar de gerar impacto ambiental direto na comunidade onde está instalada.

Prédio pensado para a sustentabilidade


Empresas preocupadas com a sustentabilidade ambiental comumente têm ações em diversas frentes neste sentido. É o caso da Acquabios, que produz filtros e purificadores de água. Instalada em Caxias durante a maior parte da sua história, a empresa se mudou para Linha Palmeiro, no interior de Farroupilha, no ano passado. Esse passo permitiu que a indústria planejasse um prédio novo já projetado para a sustentabilidade.


Instalada em uma região rodeada de áreas verdes, a empresa preservou mais árvores que o obrigatório por lei. A construção tem cisternas que possibilitam o reaproveitamento da água em todos os processos, com exceção do consumo humano. O prédio foi erguido de maneira a dar o melhor uso possível da luz natural, evitando que haja necessidade de ligar as lâmpadas em dias ensolarados, por exemplo. Além disso, o projeto já conta com a possibilidade de instalação de energia fotovoltaica, o que deve se efetivar em um ano.


— A gente tem uma redução de custo porque é um reaproveitamento de um recurso disponível que não estaria sendo utilizado. A matriz energética também vai trazer uma redução de custos com energia, além de ela ser limpa. É algo bom para todo mundo. É bom não só do ponto de vista sustentável, mas também financeiro. E isso é ótimo, porque quando a gente consegue conciliar essas duas coisas, é perfeito. Nós temos nossas embalagens que hoje são feitas com material reciclado, então nós temos certificados de redução de emissão de gás carbônico, porque usamos esse tipo de embalagem. Conscientemente, a gente sabe que é uma empresa limpa, uma empresa que não gera resíduos; pelo contrário, aproveita aquilo que seria descartado — afirma a diretora da Acquabios, Daiane Panazzolo.



A empresa também distribuiu garrafas para todos os 200 funcionários, otimizando o uso de copos plásticos. A indústria, que conta com o Intertek Certification, um certificado de responsabilidade social e ambiental, também reaproveita plásticos e tem um fornecedor de embalagens que usa materiais totalmente recicláveis. A diretora da empresa explica que assim como exige que alguns fornecedores tenham a garantia de iniciativas sustentáveis, precisa oferecer garantias de que usa processos e insumos recicláveis para parte dos clientes.


— Eu acho que a sustentabilidade, se a gente não for tão imediatista, ela gera um benefício não só sustentável, mas econômico no longo prazo. Tudo que se reutiliza deixa de ser gasto, não é só consumo que deixa de acontecer. É gasto que passa a ser minimizado. É o caso de reprocesso de materiais, de embalagens que são utilizadas com matéria-prima reciclada e é uma embalagem mais em conta para nós. Então, não acho que é custoso ser sustentável — comenta a empresária.


Desafio para ganhar mercado


Embora o cuidado com o meio ambiente seja um aspecto reverenciado em alguns segmentos, há outros para os quais ainda há o desafio de percepção do consumidor desse aspecto como um diferencial que agrega valor ao produto. É o que aponta a gerente administrativa da AND, Mariana Stangherlin Rigo. A empresa caxiense, que produz equipamentos de gastronomia e tem 86 funcionários, adota uma série de medidas que vão desde a redução do uso de papel e de copos plásticos até o teste com materiais mais duráveis para o desenvolvimento de novos produtos.

— A AND desenvolve e produz os produtos aqui no Brasil. Então, a gente consegue ter um controle total da cadeia produtiva. Quando a gente desenvolve o produto, a gente o desenvolve para ter uma vida útil longa. Então, já no desenvolvimento do produto, a gente prevê manutenções que podem ser realizadas nesse produto, para que o consumidor o conserte quando ele estraga. Então, o ciclo de vida do produto é uma ação de sustentabilidade que a gente tem — explica a gerente administrativa.



Nos processos internos, há atitudes de preservação ambiental, como a geração controlada e a destinação correta de resíduos. No caso dos plásticos, a empresa comprou um moinho para moer e reaproveitar o material em peças que aceitam essa reutilização. Ao todo, são duas toneladas reprocessadas por mês. Outra iniciativa foi a criação de um produto para uso dos polímeros reciclados. São porta-botijões e porta-folhagens que entraram no catálogo da AND. A indústria utiliza ainda restos de tecidos para fazer parte dos produtos.


disso, materiais que sobram na fábrica ganham destinações ecologicamente corretas. É o caso de uma quantidade de aço de uma linha descontinuada, que virou lixeiras, ou de pallets que são a base de sofás. O envolvimento dos funcionários é outro aspecto importante. Cada um recebeu uma garrafa e uma caneca, para evitar o uso de copos plásticos. Uma iniciativa de redução de uso de papel diminuiu as impressões em 63% desde 2019, gerando a economia de 16,9 mil folhas. Outra ação envolvendo a equipe foi a promoção de um dia em que cada empregado levava peças de roupa em desuso para trocar por outras, como incentivo ao consumo sustentável.


A gerente administrativa da AND adiciona que está em teste o uso de grafeno em materiais, o que pode melhorar a durabilidade dos produtos. Porém, explica ela, ainda há pressão do mercado, principalmente de grandes varejistas, para que, pelo contrário, os produtos tenham um giro maior. Outro ponto, diz Mariana, é que o cliente final ainda coloca como prioridade o preço:


— Anualmente, nas pesquisas de comportamento do consumidor, sempre vem a preocupação com a sustentabilidade como um ponto que o cliente está se preocupando mais, mas no mercado não vemos isso acontecer. No mercado, o preço, o giro, tem vários outros fatores que estão na frente da sustentabilidade, infelizmente. Hoje, o nosso envolvimento com a sustentabilidade está muito mais ligado aos valores da empresa do que uma exigência de mercado.


Responsabilidade ativa na redução de papel


Quatro funcionárias de uma agência de cooperativa de crédito em Galópolis tiveram que se adaptar à redução drástica no uso de papel, quando começaram a trabalhar na nova agência em Caxias do Sul. A unidade abriu no dia 23 de maio, com o conceito de diminuição máxima de utilização desse insumo. As funcionárias estimam que, desde então, precisaram usar cerca de 10 folhas para a impressão. A economia, por outro lado, chega a aproximadamente mil folhas, conforme estimativa que considerou o uso por outra agência do mesmo porte.


Essa iniciativa traz uma mudança no ambiente de trabalho. Além do design da agência ter sido pensado de maneira criação de um espaço que pouco se identifica com um banco, com árvores, sem caixas tradicionais, sofás e espaço amplo, o pouco consumo de papel faz as mesas serem naturalmente organizadas, sem os comuns escaninhos sobre elas. Isso porque a abertura de contas, por exemplo, é feita totalmente de forma digital:


— Os associados não assinam de forma física, mas de forma digital. Enviamos um link para eles abrirem em casa ou oferecemos um tablet aqui. E arquivamos tudo no servidor. Então, tem o impacto da redução da impressão, mas tem o impacto do arquivo. Agências maiores têm uma pessoa só para o arquivo. Aqui, a gente otimiza muito os uso dos recursos — salienta a gerente da agência da Sicredi Pioneira em Galópolis, Giovana Pistorello.



Segundo ela, é preciso manter em papel dados sobre rotinas de caixa e o cartão-autógrafo para quem ainda tem cheque, apenas. A integração ao movimento paperless ocorre em todas as agências da cooperativa, em maior ou menor grau. O diretor de Operações da Pioneira, Eduardo Spier, estima que a redução média no uso de papel foi de 30%.


A ideia é avançar nesse processo, até que em três anos todas as agências deixem de ter arquivo para armazenamento de documentos físicos. Durante esse período, os impressos atualmente arquivados serão retirados e gradativamente digitalizados e disponibilizados para consulta.

— Quando eu trabalhava em outra agência, tirava meia hora para fazer arquivo. Colocar no portal (digital) pode ser um pouco mais demorado que o papel, mas economiza o tempo de arquivar — relata Ângela Maschio, assistente de atendimento em Galópolis.


A redução no uso de papel significou, portanto, uma mudança na rotina, mas que é avaliada positivamente:

— Nós colocamos todos os documentos no programa. Tudo se faz automaticamente. É uma virada de chave — comenta Letícia dos Reis, gerente de negócios da agência.


Além disso, esse novo jeito de trabalhar tem uma repercussão positiva no relacionamento com o cooperativado:


— Os associados sentem como se fosse um evento quando sabem que vão assinar no portal (digital). É uma alegria para eles também. Com essa questão inovadora, eles se sentem mais orgulhosos ainda — menciona Taís Silveira, assistente de negócios da unidade.



O que é desenvolvimento sustentável?


É o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das gerações do futuro. Ele que não esgota os recursos para o futuro. Essa definição surgiu na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pelas Nações Unidas.

O que é preciso fazer para alcançar o desenvolvimento sustentável?


É comum que se confunda desenvolvimento com crescimento econômico, que depende do consumo crescente de energia e recursos naturais. Isso tende a ser insustentável, porque leva ao esgotamento dos recursos naturais. O desenvolvimento sustentável sugere qualidade em vez de quantidade, com a redução do uso de matérias-primas e produtos e o aumento da reutilização e da reciclagem.


Fonte: clicrbs


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